A queda do Império Romano foi causada por uma série de
fatores que o fragilizaram, facilitaram as invasões bárbaras e causaram a
derrubada final do Estado. Em geral, a expressão "queda do Império
Romano" refere-se ao fim do Império Romano do Ocidente, ocorrido em 476
d.C., com a tomada de Roma pelos hérulos, uma vez que a parte oriental
do Império, que posteriormente os historiadores denominariam Império
Bizantino, continuou a existir por quase mil anos, até 1453, quando
ocorreu a Queda de Constantinopla.
Roma morreu como havia surgido
— pela espada. Nas estepes da Ásia acontecera algo que até hoje
continua obscuro. Povos punham-se em marcha. Hordas incontáveis de povos
semi-selvagens — godos, vândalos, hunos — entraram em rota de colisão
com Roma. Com um misto de repugnância e respeito, os romanos
chamavam-nos bárbaros. Essa palavra assumiu um toque de Juízo Final.
Roma
foi três vezes sitiada e saqueada. Numa frenética dança da morte, nove
imperadores sucederam-se durante os últimos 20 anos do Império.
Quando
o último imperador romano foi deposto, em 476 d.C., por um grupo de
mercenários, poucos territórios (e tropas) restavam ao seu serviço. Os
comandantes e chefes que tentavam manter o Estado Romano nos últimos
anos também eram, na maioria dos casos, de origem bárbara. Só faltava
que um decidisse tomar a púrpura, coisa que não sucedeu.
O
imperador deposto, Rômulo Augústulo, era filho de um general de origem
bárbara, Orestes, que havia servido antes a Átila o Huno, e havia obtido
o trono graças ao pai que havia derrubado o último imperador legítimo,
Júlio Nepos, que porém manteve sua autoridade sobre a Dalmácia.
Os
aliados de Orestes (hérulos e rugios) depois se desentenderam com seu
patrono e, sob as ordens de Odoacro, depuseram Rômulo Augústulo.
Observa-se que a deposição do último imperador não foi um acontecimento
repentino e que trouxesse mudança social drástica, mas sim foi o
resultado de um longo processo que se desenrolava há quase um século.
Convencionou-se
esta data como o fim da Antiguidade, mas é provável que poucos naqueles
anos considerassem aquele fato como o fim de uma era.
"A
história da sua ruína é simples e óbvia", concluiu Gibbons (Declínio e
Queda do Império Romano). "E, em vez de perguntar por que foi o Império
destruído, deveríamos antes supreender-nos com o fato de ter subsistido
por tanto tempo."
Que força mágica, bem podemos perguntar, o
tinha mantido? Uma resposta a essa pergunta pode ser achada nas antigas
virtudes que inspiraram os grandes romanos do passado. Através dos anos
de decadência, persistia uma saudade dos "bons tempos de outrora". Nomes
como os de Cícero e Pompeu viviam na memória dos romanos. Os antigos
poetas e filósofos continuavam a ser lidos. As famosas histórias dos
legendários heróis de Roma eram sempre repetidas. Foi esta força das
antigas instituições e idéias, presente, de certa forma, no próprio
sangue de cada romano, o que conseguiu que se mantivesse vivo o Império
muito tempo depois de ele ter perdido sua razão de ser.
Roma
simplesmente não podia desaparecer. À medida que antigas províncias —
Portugal, França, Itália, Romênia — se transformavam em novas nações,
falavam as línguas românicas baseadas no jargão das legiões. O próprio
latim permaneceu como a língua do saber. E o Direito romano, apurado por
gerações de grandes juristas, nutriu com seus princípios humanos e
equilibrados os sistemas jurídicos do mundo ocidental. Mas, acima de
tudo, é o conceito romano da dedicação do homem ao bem comum que até
hoje governa a nossa consciência cívica. O servidor público moderno, que
é investido na mais digna carreira que a nação pode oferecer, tem uma
dívida de gratidão para com Roma.
Manter vivos e transmitir
esses valores foi a função histórica do Império Romano. Seu próprio
colapso, quando finalmente sobreveio, já não tinha maior importância. Na
morte do Império estava a sua vitória. Sua missão civilizadora estava
cumprida.
Elegias Romanas
Falai-me, ó pedras! oh falai, vós altos palácios!
Ruas, dizei uma palavra! Gênio, não te moves?
Sim, tudo tem alma nos teus santos muros,
Roma eterna; só para mim tudo se cala ainda.
Quem me diz segredos, em que fresta avisto
Um dia o ser belo que queimando me alivie?
Não pressinto ainda os caminhos, pelos quais sempre,
Pra ir dela e pra ela, sacrifique o tempo precioso?
Ainda contemplo igrejas, palácios, ruínas, colunas,
Homem composto, decoroso, que aproveita a viagem.
Mas em breve passa: então haverá um só templo,
O templo do Amor, que se abra e receba o iniciado!
És um mundo em verdade, ó Roma; mas sem o Amor
O mundo não era mundo, e Roma não era Roma.
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